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sábado, 23 de janeiro de 2010

SESSÃO NOSTALGIA - APELONICE LIMA, MISS PASSO FUNDO 1977

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Daslan Melo Lima

PRÓLOGO

               O ano era 1977. A revista MANCHETE, um dos maiores sucessos editoriais da época, circulou em todo o país no dia 11 de junho com uma matéria instigante: “Rio Grande do Sul - Uma negra pode ser Miss?”


RIO GRANDE DO SUL – UMA NEGRA PODE SER MISS?



Apelonice perdeu o título para Rosângela: tudo nela era perfeito, menos a cor.

Apelonice Lima, 21 anos, universitária, foi eleita, à semana passada, Miss Passo Fundo, cidade gaúcha localizada a trezentos quilômetros de Porto Alegre. A jovem, de medidas esculturais (1,73m de altura, 90cm de busto, 90cm de quadris, 61 cm de cintura e 55cm de coxa), não teve , entretanto, seu nome homologado pelo presidente do júri, o jornalista César Romero, por um motivo insólito: sua cor negra. “Como nossa cidade seria visto no concurso de Miss Rio Grande do Sul tendo como candidata uma pessoa de cor?”, perguntou Romero.

Na tentativa de ter a cidade bem representada, o júri, integrado por figuras da sociedade local, fez três votações, prevalecendo a ultima, em que foi eleita Rosângela Esmeralda dos Anjos – uma jovem branca que ficara em segundo lugar. O público, tão logo foi anunciado o resultado definitivo, vaiou a escolha.

A repercussão não se circunscreveu, no entanto, ao local do concurso. Ao se reabrirem os trabalhos legislativos, alguns vereadores pediram a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar o caso em todos os detalhes, acenando com a possibilidade de aplicação da Lei Afonso Arinos a César Romero.

Apelonice Lima nega-se a comentar as punições que seriam aplicadas ao presidente do júri, limitando-se a dizer: ”Fiquei muito perturbada com tudo isso. Foi como se tivessem dado uma bofetada no meu rosto. Até agora nunca tinha sofrido qualquer problema ligado à minha cor.”

(Reportagem de Marina Wodtke - Imagens: Foto Sousa - Revista MANCHETE, 11/06/1977)


A PRIMEIRA MISS UNIVERSO NEGRA



Janelle Commissiong, Miss Trinidad Tobago, Miss Universo 1977. (Foto: www.lempimissit.suntuubi.com)

               Fico pensando nas coisas que passaram nas cabeças das pessoas preconceituosas daquele distante 1977. A Miss Universo de 1977 foi Janelle Commissiong, de Trinidad Tobago, a primeira negra a conquistar o mais importante título de beleza do planeta Terra.


UMA NEGRA PODE SER MISS?


               Um negra pode ser Miss?
               - Sim.
               O planeta Terra, com sua diversidade extraordinária, é um celeiro de reflexões sobre os conceitos – e preconceitos – do que é normal e do que é belo.

               Uma negra pode ser Miss?
               Que respondam os milhares de admiradores das misses abaixo, apenas para relembrar uma dúzia de ícones do ébano das passarelas nacionais e internacionais dos concursos de beleza:


Agbani Darego, foto acima, Miss Nigéria, semifinalista no Miss Universo 2001, eleita Miss Mundo 2001 (imagem do www.jamati.com);
Aizita Nascimento, Miss Renascença, sexta colocada no Miss Guanabara 1963;
Ana Maria Guimarães, Miss Pernambuco, semifinalista do Miss Brasil 1988;
Deise Nunes, Miss Rio Grande do Sul, Miss Brasil, semifinalista do Miss Universo 1976;
Dirce Machado, Miss Renascença, quarto lugar no Miss Guanabara 1960;
Elizabete Santos, Miss Renascença, terceira colocada no Miss Guanabara 1966
Gina Swainson, Miss Bermudas, vice-Miss Universo 1979, eleita Miss Mundo 1979;
Janelle Commissiong, Miss Trinidad Tobago, Miss Universo 1977
Maria da Conceição Silva (Marina Montini), Miss Cacique de Ramos, sétima colocada no Miss Guanabara 1966;
Mpule Kwelagobe, Miss Botsuana, Miss Universo 1999;
Vera Lúcia Couto, Miss Renascença, Miss Guanabara, vice-Miss Brasil e terceira colocada no Miss Beleza Internacional 1964;
Wendy Fitzwilliam, Miss Trinidad Tobago, Miss Universo 1998;


EPÍLOGO


Apelonice Lima. (Imagem: Foto Sousa, revista MANCHETE, 11/06/1977)

               A cidadã Apelonice Salete Lima Fuchina de hoje - esposa, mãe e uma das figuras mais queridas da sociedade de Passo Fundo - é uma pessoa comprometida com as causas que visam à promoção social e cultural dos afrodescendentes.
               No III Congresso Internacional de Linguagens, realizado em Erechim, Rio Grande do Sul, ela estava lá, ministrando um curso sobre arte e dança na cultura africana, com a consciência tranqüila dos que dão a sua parcela de contribuição para a construção de um mundo melhor.

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4 comentários:

DASLAN MELO LIMA disse...

Comentário do jornalista Mucíolo Ferreira, do Recife, PE, via e-mail.
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Daslan,

o preconceito contra a cor da pele de uma pessoa é a pior das heranças que alguém pode carregar. Mesmo porque não se mede a beleza estética, a inteligência e o caráter de uma miss pela tonalidade da sua pele. E na Sessão Nostalgia você deu vários exemplos de belezas clássicas de negras e mulatas famosas que entraram para a história imortalizadas nos concursos de beleza.

Acrescentaria à lista das misses citadas a minha Miss Renascença preferida: Sônia Silva, 3ª colocada no Miss Guanabara 1970.

Notável comentário o seu, Daslan, o que não é novidade, partindo de um poeta, jornalista e advogado que usa das palavras para semear a concórdia e o amor ao próximo. Sem nenhum ranço ou esnobismo. Apenas para tornar a leitura semanal do PASSARELA CULTURAL mais prazerosa.

Que tenhas uma semana iluminada sob os raios e brilhos das deusas de ébano.

Muciolo Ferreira

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Joao Cordeiro de Andrade disse...

Sem dúvida alguma, o preconceito racial é uma caracteristica de pessoas incultas e mediocres principalmente em concursos de misses pois, o brasileiro é um povo que em sua etnia está imbutido várias etnias haja visto que o indio, o negro e os povos ibéricos deixaram as suas marcas no contexto etnico desde o período colonial. Agradeço a Pedro Alvares Cabral e sua tripulação desde 1500 quando aportaram nas terras brasilienses deixando as suas raízes daí, esta micigenação maravilhosa que é o povo brasileiro

Anônimo disse...

Para compensar, pelo menos em parte, esta vergonhosa discriminação a que Apolonice foi alvo em sua cidade, meu RS deu, através de Deise Nunes, nove anos depois, a primeira Miss Brasil de origem africana. E eu tenho o orgulho de afirmar que minha linda neta é a mais brasileira das gaúchas. Da parte de minha nora, esta primeira neta de cabelos loiros ondulados e grandes olhos cinzentos traz em suas veias o sangue negro de sua avó, mesclado com o mais loiro alemão de olhos azuis de seu avô. E viva este caldeirão aqui existente, responsável por toda a diversidade étnica que no RS ocorre cada vez com mais intensidade, e com os melhores resultados.

Silveira/Pel disse...

Quem postou esse comentário acima, na data de 18 de setembro/11, foi eu, Silveira/Pel, habitual colaborador deste espaço e de outros voltados aos concursos de beleza. E tenho que reconhecer um escorregão que outro em meu estado natal, pertencentes ao passado, em tais certames. Vou registrar aqui um que teria ocorrido, não contra uma afro descendente, mas com uma beldade de origem alemã. Isto teria acontecido no A Mais Bela Gaúcha de 1954, de cujo concurso saiu a representante do RS para o Miss Brasil vencido por Marta Rocha. Segundo consta na reportagem da gaúcha Revista do Globo sobre esse certame realizado em Caxias do Sul, durante uma Festa da Uva, quem deveria ter ganho era a representante justo da cidade de Passo Fundo. Mas esta beldade que era loira, de origem alemã, estava ainda fora do estereótipo da mulher gaúcha da época do concurso, que era a morena de cabelos escuros. Casualmente, quem venceu esse concurso foi a representante de minha cidade de Pelotas, Cladys Caruccio, que eu conheci muito, de vista, uma morena que eu achava lindíssima, de origem italiana, que terminou desistindo do concurso, dando lugar para a representante de Porto Alegre, Ligia Carotenuto, outra beldade de origem italiana. Moral, ou "imoral" da história, até aquele momento, as gaúchas de origem alemã ainda não tinham sido assimiladas como representativas de meu estado, pelo menos nos concursos de beleza que recém se iniciavam. Anos depois, Porto Alegre elegeu uma bela miss, Ester Lerrer, morena com um porte majestoso. Havia quem dissese que ela só não teria sido a vencedora do concurso estadual por sua origem judaica. Não estou fazendo estes comentários para que o RS seja estigmatizado como um estado racista, mas para registrar manifestações isoladas não representativas da maioria da população, manifestações que também ocorriam na época por todo o Brasil, com mais ou menos intensidade, como aconteceu inclusive em pleno Maracanãzinho, contra Vera Lúcia Couto.